ITC - Instituto de Terapia Cognitiva Referência nacional e internacional em TCC no Brasil
Em Maio, em plena fase de preparação para a Copa do Mundo na África do Sul, eu escrevi um breve artigo sobre a interrelação entre auto-confiança (ou otimismo), emoção e desempenho, e expliquei o fenômeno através do qual nossas seleções (e não apenas de futebol!) são frequentemente acometidas do que chamei de "amarelão" e se rendem diante de adversários, os quais, por sua vez, crescem diante do desafio que é enfrentar a equipe brasileira e o peso de sua histórica reputação. Em outras palavras, embora qualificada de pessimista e "agourenta", anunciei a derrota e expliquei porque!
Comecei o artigo referindo-me ao famoso jogo contra a França em1998 e à inexplicável derrota do Brasil: "Copa do Mundo, jogo final: Brasil e França. Em uma partida polêmica, a equipe de Zagalo, após a suposta convulsão de Ronaldo, entra em campo insegura e desmotivada. Resultado: França 3 x Brasil 0".
E prossegui, argumentando que, nesse dia, havia ocorrido um fenômeno infelizmente muito conhecido por jogadores e torcedores: a equipe do Brasil "amarelou" na final, após uma campanha até então vitoriosa. O que explicaria esse desfecho que então surpreendeu o mundo do futebol? E o que explica a mais recente derrota do Brasil frente à Holanda na África do Sul? Como em outras partidas decisivas, não apenas em futebol, a seleção brasileira foi novamente acometida do "amarelão" e literalmente caiu em motivação e rendimento diante da equipe da Holanda.
Sem subestimar o efeito de variáveis interferentes, como a ambição de alguns jogadores, que, como notaram vários experts e astros passados de nosso futebol, não jogam para a equipe mas jogam para as câmeras de TV, relembremos Alexandre Popov, o nadador russo e campeão olímpico, que uma vez disse: "a cabeça precisa acreditar na força do corpo que ela mesma controla"! Então, o segredo do desempenho esportivo, no futebol, natação e outras modalidades esportivas, estaria mais na mente do que no corpo?! A resposta é sim! E o modelo cognitivo de funcionamento humano explica porquê.
O modelo cognitivo propõe que não é uma situação que determina nossas emoções - motivação, tranqüilidade, segurança - e nossos comportamentos, incluindo o desempenho em esportes. Mas, sim, a nossa forma de processar cognitivamente a situação de desafio. Em outras palavras, nossa mente e nossa forma de pensar uma partida determinam se nossa real competência será materializada em nosso desempenho ou não!
Na Psicologia, nós inclusive nos referimos a esse fenômeno como o que convencionamos chamar de "profecia auto-realizante" (do original em Inglês "self-fulfilling prophecy"). O que isso significa isso? Significa que, diante de uma situação de desafio, se o atleta pensar "posso vencer", esse pensamento resultará em tranqüilidade e confiança, que possibilitarão ao atleta colocar toda a sua competência no seu desempenho. Se, ao contrário, ele pensar "será que posso vencer?" ou até "não serei capaz de vencer", esse pensamento resultará em ansiedade e insegurança, estados emocionais que interferirão com a expressão máxima de sua competência e com o seu melhor desempenho.
Nesse sentido, analisando-se a fisionomia dos jogadores brasileiros e holandeses antes da entrada em campo e na volta ao segundo tempo, não é difícil identificar que, por suas mentes, passavam cognições auto-sabotantes.
Notemos especialmente o desempenho da equipe brasileira no segundo tempo. Seu descontrole nos 15 min iniciais do segundo tempo custou-lhes a vitória almejada. Os erros do Julio Cesar e a inexplicável desestrutura do Felipe Melo foram determinantes para o desfecho adverso. A equipe não era brilhante, mas apresentava-se melhor do que a Holanda. As fisionomias dos jogadores holandeses, por outro lado, sugeriam cognições de auto-confiança e determinação e que resultaram em tranquilidade para levar a partida a termo com sucesso. Não eram melhhores em competência futebolistica, mas foram mais eficazes em garantir que sua competência se materializasse em seu desempenho. E, por sua vez, a Espanha, com uma equipe menos brilhante, também foi mais eficaz em assegurar a vitória e a taça!
Houve um experimento interessante conduzido com nadadores olímpicos. Primeiramente, identificou-se, através de um questionário ("Questionário de Estilos de Atribuição" de Martin Seligman, famoso pesquisador em Psicologia, que deu uma entrevista à Veja em 2008 sob o título de "Doutor Felicidade"), os nadadores otimistas (que, diante de uma prova, tendiam a pensar positivamente) e os pessimistas (que tendiam a prever seu desempenho negativamente). Segundo, a ambos os grupos foi dada a instrução de nadar tentando fazer o seu melhor tempo. Ao sair da piscina, todos receberam o mesmo feedback: "não fez um bom tempo; volte à piscina e melhore seu tempo". Resultado: os otimistas, na segunda tentativa, melhoravam seu tempo; enquanto que os pessimistas, na segunda tentativa, pioravam seu tempo. Em outras palavras, as "previsões" de ambos os grupos se realizavam na segunda tentativa: tanto as previsões dos otimistas ("vou melhorar meu tempo"), quanto as previsões dos pessimistas ("será que vou conseguir?" ou simplesmente "não vou conseguir")! Isso nos lembra ainda a conhecida parábola das rãs: na corrida para chegar a uma alta torre, todas as rãs ouviram do público presente: "essa prova é muito difícil, coitadas, vocês não vão conseguir". Efetivamente, apenas uma consegue chegar ao alto da torre: a rã que era surda!
Em Coaching Cognitivo, a área da psicologia aplicada que, ao lado da Terapia Cognitiva, se fundamenta no modelo cognitivo de funcionamento humano, portanto, intervém-se sobre a forma que o atleta tem de processar o real - o jogo, a prova, o final da Copa do Mundo - a fim de permitir-lhe modular funcionalmente suas emoções e poder executar o seu máximo desempenho.
E o que determina que, diante de um desafio, um grupo pense "vou vencer" e outro grupo pense "não vou vencer"? São suas experiências relevantes de vida até aquele momento, especialmente suas formas habituais de explicar eventos de sucesso e fracasso. Dizemos que desenvolvemos, ao longo da vida, esquemas cognitivos, que nos permitem processar o real. Chegamos à vida adulta, com uma matriz de esquemas, que poderíamos chamar de nosso "software".
Agora a pergunta crítica: esse "software" pode ser mudado? Sim, a qualquer momento! Através de um trabalho de Coaching Cognitivo, uma modalidade de intervenção cognitiva que desponta e que se comprova rápida e eficaz. Com a ajuda de um coach cognitivo competente, atletas podem otimizar suas formas de processar o momento a momento de uma prova, a fim de manter sua motivação e auto-confiança, bem como a confiança na força da equipe, durante todo um jogo ou uma prova. E, dessa forma, garantir seu máximo desempenho! Esses atletas tenderão a pensar, diante de uma vitória: "jogamos bem contra essa equipe, jogaremos igualmente bem contra a próxima equipe, e nosso talento se comprovará nos próximos jogos". E como pensarão diante de uma derrota? "Perdemos, mas jogamos bem; identificaremos nossas falhas, superaremos as falhas nos próximos treinos, e jogaremos melhor contra a próxima equipe; e nosso talento voltará a se manifestar nos próximos jogos"!
Dessa forma, o Brasil se livraria do "amarelão" que historicamente parece atacar atletas brasileiros nas finais das competições de várias modalidades esportivas!
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