Home > Informe-se > Artigos e textos > Ana Maria Martins Serra

A Psicologia na Copa do Mundo: Emoções, Desempenho e Vitória - A Derrota Anunciada!

Dra. Ana Maria Martins Serra, PhD - Instituto de Terapia Cognitiva, São Paulo, SP

Foto da Dra. Ana Maria Martins Serra

Em Maio, em plena fase de preparação para a Copa do Mundo na África do Sul, eu escrevi um breve artigo sobre a interrelação entre auto-confiança (ou otimismo), emoção e desempenho, e expliquei o fenômeno através do qual nossas seleções (e não apenas de futebol!) são frequentemente acometidas do que chamei de "amarelão" e se rendem diante de adversários, os quais, por sua vez, crescem diante do desafio que é enfrentar a equipe brasileira e o peso de sua histórica reputação. Em outras palavras, embora qualificada de pessimista e "agourenta", anunciei a derrota e expliquei porque!

Comecei o artigo referindo-me ao famoso jogo contra a França em1998 e à inexplicável derrota do Brasil: "Copa do Mundo, jogo final: Brasil e França. Em uma partida polêmica, a equipe de Zagalo, após a suposta convulsão de Ronaldo, entra em campo insegura e desmotivada. Resultado: França 3 x Brasil 0".

E prossegui, argumentando que, nesse dia, havia ocorrido um fenômeno infelizmente muito conhecido por jogadores e torcedores: a equipe do Brasil "amarelou" na final, após uma campanha até então vitoriosa. O que explicaria esse desfecho que então surpreendeu o mundo do futebol? E o que explica a mais recente derrota do Brasil frente à Holanda na África do Sul? Como em outras partidas decisivas, não apenas em futebol, a seleção brasileira foi novamente acometida do "amarelão" e literalmente caiu em motivação e rendimento diante da equipe da Holanda.

Sem subestimar o efeito de variáveis interferentes, como a ambição de alguns jogadores, que, como notaram vários experts e astros passados de nosso futebol, não jogam para a equipe mas jogam para as câmeras de TV, relembremos Alexandre Popov, o nadador russo e campeão olímpico, que uma vez disse: "a cabeça precisa acreditar na força do corpo que ela mesma controla"! Então, o segredo do desempenho esportivo, no futebol, natação e outras modalidades esportivas, estaria mais na mente do que no corpo?! A resposta é sim! E o modelo cognitivo de funcionamento humano explica porquê.

O modelo cognitivo propõe que não é uma situação que determina nossas emoções - motivação, tranqüilidade, segurança - e nossos comportamentos, incluindo o desempenho em esportes. Mas, sim, a nossa forma de processar cognitivamente a situação de desafio. Em outras palavras, nossa mente e nossa forma de pensar uma partida determinam se nossa real competência será materializada em nosso desempenho ou não!

Na Psicologia, nós inclusive nos referimos a esse fenômeno como o que convencionamos chamar de "profecia auto-realizante" (do original em Inglês "self-fulfilling prophecy"). O que isso significa isso? Significa que, diante de uma situação de desafio, se o atleta pensar "posso vencer", esse pensamento resultará em tranqüilidade e confiança, que possibilitarão ao atleta colocar toda a sua competência no seu desempenho. Se, ao contrário, ele pensar "será que posso vencer?" ou até "não serei capaz de vencer", esse pensamento resultará em ansiedade e insegurança, estados emocionais que interferirão com a expressão máxima de sua competência e com o seu melhor desempenho.

Nesse sentido, analisando-se a fisionomia dos jogadores brasileiros e holandeses antes da entrada em campo e na volta ao segundo tempo, não é difícil identificar que, por suas mentes, passavam cognições auto-sabotantes.

Notemos especialmente o desempenho da equipe brasileira no segundo tempo. Seu descontrole nos 15 min iniciais do segundo tempo custou-lhes a vitória almejada. Os erros do Julio Cesar e a inexplicável desestrutura do Felipe Melo foram determinantes para o desfecho adverso. A equipe não era brilhante, mas apresentava-se melhor do que a Holanda. As fisionomias dos jogadores holandeses, por outro lado, sugeriam cognições de auto-confiança e determinação e que resultaram em tranquilidade para levar a partida a termo com sucesso. Não eram melhhores em competência futebolistica, mas foram mais eficazes em garantir que sua competência se materializasse em seu desempenho. E, por sua vez, a Espanha, com uma equipe menos brilhante, também foi mais eficaz em assegurar a vitória e a taça!

Houve um experimento interessante conduzido com nadadores olímpicos. Primeiramente, identificou-se, através de um questionário ("Questionário de Estilos de Atribuição" de Martin Seligman, famoso pesquisador em Psicologia, que deu uma entrevista à Veja em 2008 sob o título de "Doutor Felicidade"), os nadadores otimistas (que, diante de uma prova, tendiam a pensar positivamente) e os pessimistas (que tendiam a prever seu desempenho negativamente). Segundo, a ambos os grupos foi dada a instrução de nadar tentando fazer o seu melhor tempo. Ao sair da piscina, todos receberam o mesmo feedback: "não fez um bom tempo; volte à piscina e melhore seu tempo". Resultado: os otimistas, na segunda tentativa, melhoravam seu tempo; enquanto que os pessimistas, na segunda tentativa, pioravam seu tempo. Em outras palavras, as "previsões" de ambos os grupos se realizavam na segunda tentativa: tanto as previsões dos otimistas ("vou melhorar meu tempo"), quanto as previsões dos pessimistas ("será que vou conseguir?" ou simplesmente "não vou conseguir")! Isso nos lembra ainda a conhecida parábola das rãs: na corrida para chegar a uma alta torre, todas as rãs ouviram do público presente: "essa prova é muito difícil, coitadas, vocês não vão conseguir". Efetivamente, apenas uma consegue chegar ao alto da torre: a rã que era surda!

Em Coaching Cognitivo, a área da psicologia aplicada que, ao lado da Terapia Cognitiva, se fundamenta no modelo cognitivo de funcionamento humano, portanto, intervém-se sobre a forma que o atleta tem de processar o real - o jogo, a prova, o final da Copa do Mundo - a fim de permitir-lhe modular funcionalmente suas emoções e poder executar o seu máximo desempenho.

E o que determina que, diante de um desafio, um grupo pense "vou vencer" e outro grupo pense "não vou vencer"? São suas experiências relevantes de vida até aquele momento, especialmente suas formas habituais de explicar eventos de sucesso e fracasso. Dizemos que desenvolvemos, ao longo da vida, esquemas cognitivos, que nos permitem processar o real. Chegamos à vida adulta, com uma matriz de esquemas, que poderíamos chamar de nosso "software".

Agora a pergunta crítica: esse "software" pode ser mudado? Sim, a qualquer momento! Através de um trabalho de Coaching Cognitivo, uma modalidade de intervenção cognitiva que desponta e que se comprova rápida e eficaz. Com a ajuda de um coach cognitivo competente, atletas podem otimizar suas formas de processar o momento a momento de uma prova, a fim de manter sua motivação e auto-confiança, bem como a confiança na força da equipe, durante todo um jogo ou uma prova. E, dessa forma, garantir seu máximo desempenho! Esses atletas tenderão a pensar, diante de uma vitória: "jogamos bem contra essa equipe, jogaremos igualmente bem contra a próxima equipe, e nosso talento se comprovará nos próximos jogos". E como pensarão diante de uma derrota? "Perdemos, mas jogamos bem; identificaremos nossas falhas, superaremos as falhas nos próximos treinos, e jogaremos melhor contra a próxima equipe; e nosso talento voltará a se manifestar nos próximos jogos"!

Dessa forma, o Brasil se livraria do "amarelão" que historicamente parece atacar atletas brasileiros nas finais das competições de várias modalidades esportivas!

Todos os direitos de publicação reservados. Reprodução proibida ou permitida apenas com permissão expressa escrita dos autores.
< ver mais artigos
    • CADASTRE-SE
    • Fique por dentro das nossas novidades!

ITC – Instituto de Terapia Cognitiva
AV. das Nações Unidas, 8501 – 17º andar.
(Edifício Eldorado Business Tower)
CEP: 05425-070 - São Paulo / SP
Tel: (11) 3434.6612

Copyright © ITC - Instituto de Terapia Cognitiva (CRP/SP: 2592/J)