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Aos organizadores e participantes do I Congresso Internacional de Esquizofrenia e Terapia Cognitiva

Mensagem enviada por Aaron T. Beck

Cara Ana Maria,

Estou encantado em saber da reunião de profissionais interessados em abordagens cognitivas à esquizofrenia e o corpo docente brilhante que você compôs. As abordagens cognitivas à esquizofrenia certamente avançaram a um nível superior o tratamento dessa condição extremamente grave. É importante ser capaz de adaptar o que sabemos acerca das condições não-psicóticas para a compreensão e tratamento da esquizofrenia. De certa forma, a formulação e estratégias de tratamento são uma extensão daquelas que foram aplicadas com sucesso à depressão, aos transtornos de ansiedade, e aos transtornos de personalidade. Entretanto, “um tamanho não serve a todos”, e há revisões importantes na forma como abordamos pacientes portadores de esquizofrenia que devem ser implementadas.

Basicamente, é crucial compreender os aspectos neurocognitivos e psicológico-cognitivos da esquizofrenia, bem como o transtorno esquizofrênico, como uma condição única em si. Talvez haja um continuum em termos de neuropatologia e distorções cognitivas à medida em que nos deslocamos das neuroses às psicoses. Mas, assim como a natureza da água se altera quando baixa além do ponto de congelamento e transforma-se em gelo, assim também os fenômenos neuróticos habituais passam por uma espécie de "transformação profunda" quando se “congelam” na esquizofrenia. Buscamos elaborar estes princípios em nosso livro Cognitive Approaches to Schizophrenia, que agora se encontra no prelo. Ao adaptar a formulação para um paciente específico, necessitamos ter uma formulação conceitual baseada na sintomatologia do paciente, seu histórico, e funcionamento neurocognitivo. Pacientes com um bom histórico pré-mórbido e um nível maior de funcionamento podem ser abordados com algumas das técnicas cognitivas usuais. Entretanto, assim como “um tamanho não serve a todos”, aqueles com uma disfunção neurocognitiva significativa são tratados de forma ligeiramente diferenciada. Nestes casos, o terapeuta é muito mais diretivo e necessita gastar consideravelmente mais tempo a fim de engajar o paciente em sessões individuais e fornecer explicações em termos mais simples para que o paciente possa lembrá-las. Terapia em grupo e terapia individual são ambas úteis, mas de formas diferentes, e, idealmente, ambas devem ser utilizadas. Ademais, uma variedade de auxílios adicionais necessitam ser utilizados, tais como o “palm” (computador de mão), que utilizamos para lembrar os pacientes de suas tarefas de casa (como ir para cama em um horário razoável, engajar-se em atividades sociais, etc.). Ao auxiliar pacientes com sintomas predominantemente negativos, abandonamos nosso uso de questionamento Socrático e formulamos nossas afirmações de forma definitiva e concreta como "Diga-me o que o angustiou durante a semana passada" ao invés de "O que o angustiou durante a semana passada." Além dos auxílios de memória, engajamos a família, como uma forma de reforçar nossa abordagem geral nas tarefas de casa e reduzir conflitos e mal-entendidos.

Descobrimos que o Modelo de Reabilitação é o que funciona melhor. Colaboramos com os pacientes na determinação de metas de longo prazo, as quais geralmente se encaixam em três categorias: formação de relacionamentos, conseguir um emprego ou voltar à escola, e morar independentemente. Quando delírios e alucinações interferem com estas metas, lidamos com as mesmas de forma direta. Na maioria dos casos em que os delírios e alucinações são proeminentes, observamos que temos que utilizar técnicas cognitivas para a redução da angústia.

Estou muito contente em saber que há tantos profissionais interessados em abordagens cognitivas para a esquizofrenia, e estou confiante que conferências como esta irão avançar enormemente o tratamento desta condição altamente debilitante.

Meus melhores desejos a todos vocês, Aaron T. Beck


Dear Ana Maria

I am delighted to know of the convening of professionals interested in cognitive approaches to schizophrenia and the brilliant faculty that you have assembled. The cognitive approaches to schizophrenia have certainly advanced the treatment of this very serious condition to a higher level. It is important to be able to adapt what we know about non-psychotic conditions to the understanding and treatment of schizophrenia. In a way, the formulation and treatment strategies are an extension of those that have been successfully applied to depression, anxiety disorders, and personality disorders. However, one size does not fit all, and there are important revisions in the way we approach patients with schizophrenia that have to be made.

Basically, it is crucial to have an understanding of the neurocognitive and psychological-cognitive aspect of schizophrenia as well as of schizophrenia disorder as a unique condition in itself. Perhaps there is a continuum in terms of neuropathology and cognitive distortions as we move from the neuroses to the psychoses. But just as water changes character when it goes below the freezing point into ice, so the usual neurotic phenomena do have a kind of “deep change” when they become frozen into schizophrenia. We have tried to elaborate on these principles in our book Cognitive Approaches to Schizophrenia, which is now in press. In adapting the formulation in an individual patient, we need to have a conceptual formulation based on the patient’s symptomatology, history, and neurocognitive functioning. Patients with a good premorbid history and a higher level of functioning can be approached with some of the usual cognitive techniques. However, one size does not fit all, and those with significant neurocognitive impairment are treated somewhat differently. In these cases, the therapist is far more directive and needs to spend considerably more time in engaging the patient in individual sessions and provide explanations in fairly simple terms that the patient can remember. Group therapy and individual therapy are both helpful but in different ways and, ideally, both should be used. Moreover, a variety of additional aids need to be utilized, such as the handheld computer that we use to remind the patient of homework assignments (such as going to bed at a reasonable time, engaging in social activities, etc.). In helping patients with predominant negative symptoms, we abandon our use of Socratic questioning and make our statements in a definite, concrete form such as “Tell me what was upsetting during the past week” rather than “What was upsetting during the past week.” In addition to the memory aids, we do enlist the family as a way of reinforcing our general approach in the homework assignments and reducing conflict and misunderstandings.

We have found that the Recovery Model works best. We collaborate on setting long-term goals with the patients, which generally fall into three categories: forming relationships, getting a job or returning to school, and living independently. When delusions or hallucinations interfere with these goals, we deal with them directly. In most cases where there are prominent delusions and hallucinations, we find that we do have to use our cognitive techniques to reduce the distress.

I am so delighted that there are so many professionals interested in cognitive approaches to schizophrenia, and I am confident that conferences such as this will enormously advance the treatment of this very disabling condition.

My best wishes to all of you, Aaron T. Beck

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